Vera Jacobina

Nas nossas diferenças, nos encontramos.

Textos


O BAIRRO ESTRANHO

Naquele bairro, algo de estranho acontecia, porque a partir das 09:00 horas, todos se trancafiavam em casa, e nem o telefone atendiam. Como era nova ali, ficava curiosa, mesmo porque, estudava a noite e voltava tarde pra casa, por volta das 11:00 horas. Percebi que a recente amizade que fiz, uma moça simpática, mas ao mesmo tempo esquisita, só atendia minhas ligações durante o dia, eu havia pegado o número do seu telefone, que ela me ofereceu, caso eu precisasse de ajuda, muito gentil, mas que era esquisita, era! Confesso minha insegurança em ter que voltar aquele horário da faculdade tarde da noite e não ter um pé de gente na rua. Bom, a vida ali, ia transcorrendo normalmente, a não ser as coisas estranhas que eu ia percebendo. A senhora idosa que morava em frente, não falava coisa com coisa, mas, morava só, ninguém a visitava. O mecânico muito doido, e com cara e mãos sujas de graxa adorava beijar e pegar nas mãos dos outros para sujá-los, e parecia se divertir com aquilo, as crianças, pareciam adultas, tão certinhas! Confesso que não vi uma vidraça quebrada, não ouvi um palavrão. Nos finais de semanas, o silêncio era pior ainda, cadê o povo? Eu me perguntava. Uns gatos pintados apareciam aqui, ali, alhures, mas conversa e alegria, nenhuma. Resolvi investigar, e não deu outra, quanto mais eu me aprofundava nas investigações, mais mistérios apareciam. Então, resolvi procurar outro lugar para morar, já que eu sou adepta da alegria, do colorido, do bem estar... E ali tudo era contrário ao meu jeito de ser. Numa manhã de domingo, encontrei com a personagem que citei no início do texto, que atende pelo nome de Ester, ela me cumprimentou e perguntou como eu estava, fiquei pensando antes de responder, o que ela gostaria de ouvir, já que naquele lugar, as pessoas parecem não se importar com ninguém. Mesmo assim eu disse o que era de praxe: estou bem e você? Para minha surpresa ela me respondeu: triste, muito triste! Por que? Eu perguntei, e sabem o que ela me respondeu? Porque eu não existo, eu sou uma ilusão. Ilusão? De quem? SUA! Ai, ai ai! O que deu nessa doida?
Mas não é que ela tinha razão, acordei!
Vera Jacobina
Enviado por Vera Jacobina em 03/10/2018
Alterado em 07/10/2018


Comentários

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras